quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Passagem de ida



Olho para minha vida

E vejo cadáveres de mim mesma


Como são belos

Como foram frutíferos


Notáveis

Imprescindíveis


Permanecem por fora

Prosperam por dentro


Quantas lutas

Quantos lutos


Quão bem vindos lutos.


A tristeza de uma agrura

É nascente de suprema felicidade


Marcamos encontro com a felicidade

Desviamos do caminho estreito.


Queremos sorrir primeiro, pra depois quem sabe,

Derramar lágrimas anestesiadas


Os sorrisos não chegam

As lágrimas seguramente sim


E culpamos o outro.


Porque o espelho só serve para refletir a beleza

Os defeitos jamais me pertencem


Acumulemos cadáveres em vida

Para que a morte física seja uma passagem só de ida

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

NASICA E ÊNIO



Nasica foi visitar o poeta Ênio e, perguntando por ele à entrada, uma escrava lhe disse que Ênio não estava em casa. Nasica, porém percebeu que ela tinha respondido por ordem do seu amo e que este se encontrava em casa.


Poucos dias depois, Ênio foi à casa de Nasica e, perguntando por ela a porta, Nasica exclamou que não estava em casa.


Diz Ênio:

-O quê? Então não conheço a tua voz?
Responde Nasica:
-Tu és um sem-vergonha. Quando te procurei, acreditei no que disse sua escrava (que não estavas em casa) e tu não acreditas no que eu mesma digo!
(Cícero)